BASÍLICA DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA - Parte 1: influências
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Há muita coisa boa sendo escrita sobre símbolos, memória e patrimônio, que nos subúrbios se ressignificam, criam, perdem e resgatam. O Rio de Janeiro é considerada uma capital mundial da arquitetura, e seu ecletismo permite a presença tombada (ou não) de diversos estilos convivendo por aqui
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No Méier, a nossa Basílica é sempre mencionada como uma das poucas construções brasileiras em estilo moçárabe (foto 1), comum na Espanha, de onde também vieram os Missionários de Santo Antônio Maria Claret, congregação fundada em 1849, e chegada ao Brasil em 1895. O capelão claretiano Florentino Simon chegou ao Meyer em 1907. No ano seguinte conseguiu a compra do terreno com duas casas velhas do Sr. Leopoldo O. Pimentel na antiga rua Cardoso, n. 6, para erguer o Santuário do Imaculado Coração de Maria, com lançamento da pedra fundamental em 1909.
O arquiteto escolhido Adolfo Morales de Los Rios (pai - foto 3), natural de Sevilha, já estava no Brasil há alguns anos como professor na Escola de Belas Artes (também projetada por ele). Com farto material publicado, Los Rios deixou na arquitetura uma marca histórica presente no encontro das matrizes cristã e islâmica (comentado com acidez na foto 2) da Península Ibérica, visto na fachada do Teatro Falla, em Toledo (foto 4) e em diversas torres de igrejas espanholas (foto 5). No Rio, expôs esse estilo também em um portal temporário na Exposição de 1922 (foto 7), antigo Café Persa da Av. Central (foto 8), e no Teatro Riachuelo (foto 9). Como foi construída quase inteiramente a partir de doações, a torre só ficou pronta em 1924. Em um bairro ainda sem prédios, era vista a km de distância, e se tornou símbolo da Belle Epoque do Meyer como capital suburbana até os anos 30.
BASÍLICA DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA - Parte 2: construção.
No último post escrevi que a construção do Santuário foi feita quase exclusivamente com doações, e por isso foi evoluindo aos poucos, respeitando o projeto original.
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Em 1909 foi lançada a pedra fundamental da obra, em festa que contou com a presença de muitos moradora. A pequena capela N. S. das Dores daria lugar a uma igreja de dimensões únicas nos subúrbios. Nas fotos 11 e 12 são vistas imagens das primeiras obras em 1911 (Revista da Semana), onde já são vistos as formas mouriscas do portal de entrada. Essa primeira parte foi inaugurada em 1912, com a presença e benção do Cardeal Arcoverde. Com a chegada do padres claretianos espanhois Jose Beltrán e Francisco Ozamis, a Casa Paroquial foi construída e entregue em 1914 (foto 13: romaria em 1915).
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A terceira parte da igreja foi inaugurada em 1917 (foto 6: Revista Careta; foto 14: Revista Illustrada), e o Pe. André Moreira, que depois nomeou a antiga rua Angélica, já estava presente quando a Paróquia dedicada ao Imaculado Coração de Maria se desmembrou para ter a sua própria criada.
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Em 1919, a primeira pedra da torre foi colocada, e sua cruz do alto abençoada. Até 1930, a torre foi construída (foto 17: "Vida Doméstica", 1923), a pia batismal inaugurada, o imponente Órgão de Tubos alemão foi importado, e o portão em jacarandá foi trabalhado. Em 1937 a rua Cardoso se torna rua Coração de Maria e, assim, temos a oficialização das marcas da Paróquia no bairro. A partir dos anos 40 (foto 18), também passa a oferecer mais serviços à comunidade. O Pe. Idelfonso Penalba, claretiano que era diretor do Colégio do Imaculado Coração de Maria, cujo prédio da rua Aristides Caire também é tombado, faleceu nos anos 30 e também se tornou nome de rua em 1949.
BASÍLICA DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA - Parte 3: o espaço interno
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Nos últimos dois posts quis demonstrar bastante da evolução e inspiração neomourisca da nossa Basílica. Mas todos que a conhecem por dentro sabem que o exterior é somente parte do brilho.
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Assim como no espaço externo, o arquiteto espanhol Adolfo Morales de Los Rios se inspirou na parcela da arquitetura espanhola rica em elementos árabes, rara na América, mas presente no Méier! A antiga sinagoga transformada em templo cristão Santa María La Bianca (foto 20) é da mesma Sevilha onde nasceu Los Rios. Contudo, é nítida a inspiração sobre a Catedral de Córdoba (foto 21). As listras esverdeadas da nave central e alas (foto 22: 1948) são características inconfundíveis. Ao adentrarmos a nave central, temos a visão da Sagrada Família. O altar-mor, caprichosamente enquadrado pelo amigo @joaocortacio na foto 23 - e nas demais atuais - foi inaugurado somente em 1939 (foto 24), mas seguindo o projetado por Los Rios originalmente, com Nossa Senhora. Há ainda outros dois altares nas laterais, algo bem raro: à esquerda, de Missa Tridentina ("uso mais antigo" pré-Concílio Vaticano II) ao Coração de Jesus; à direita, o altar dedicado a São José. Quando foi elevada à condição de Basílica Menor nos anos 1960, o altar de Nossa Senhora passa a ser reservado ao Papa, como toda Basílica deve manter.
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Em tantos anos de existência, muitas foram também os problemas enfrentados. Em 1929 parte da fachada desabou, sendo recuperada no ano seguinte. Nos anos 80, uma grande obra restaurou a pintura interna, e depois o relógio da torre. Em 95 foi a vez do portão de jacarandá, comido por cupins, e do Órgão de Tubo (foto 27/fundo). Não somente pela beleza, a @basilicaimacoracaodemaria também atua na prestação de outras serviços, além dos religiosos, à comunidade há anos e merece o nosso reconhecimento histórico!
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BASÍLICA DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA: a elevação
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Finalizando essa sequência de posts sobre um dos principais marcos religiosos da cidade, é oportuno sempre ressalta que essa grandiosidade jamais teria sido atingida e consolidada sem a intensa participação da comunidade do bairro (foto 29), com a ação de pessoas, sempre elas, motivadas em fazer do gigantesco Santuário muito mais que os característicos tijolinhos mostram a quem passa em frente (foto 30, crianças e jovens na Semana Santa de 1916 na parede da igreja ao fundo)
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Antes da existência do Jardim do Méier, havia a passagem de um braço do rio Jacaré, que formava um pequeno alagadiço, aterrado conforme os melhoramentos urbanos alcançaram o bairro. A pesada estrutura de 56m da torre ficava sobre esse terreno aterrado, e em 1929 ocorreu uma queda de parte da fachada (foto 31). Apesar de não ter deixado vítimas, foram observadas algumas falhas estruturais a serem corrigidas em uma obra no ano seguinte (foto 32).
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Os padres claretianos José Beltrán (foto 33 em destaque) e Julião Cantuer (entre os operários - em pé - e os engenheiros - sentados - responsáveis pela reforma da fachada) contaram com o grande empenho também do Padre André Moreira (foto 34) em arrecadar doações em vários eventos nos subúrbios e na cidade para o elevado custo da reforma.
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Assim, o Santuário passou a oferecer maior segurança para continuar sua história, que ainda passaria por um grande reconhecimento: a elevação à categoria de Basílica Menor, além de se manter como Santuário do Imaculado Coração de Maria, em 1964 pelo Papa João XXIII É uma das 1500 existentes no mundo, consolidando sua importância e grandiosidade, contando assim com um altar reservado ao Papa (aguardamos a visitinha)
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Independente de crença, espero ter mostrado um pouco mais dessa joia suburbana resistente no tempo :)
Operários (em pé) e engenheiros (sentados) com o Pe. Julián Cantuer e Pe. José Beltrán (dir.)
Pe. André Moreira