ENGENHO NOVO DOS JESUÍTAS
O início do começo: quando não havia nenhum dos pontos de referência que conhecemos hoje, o sítio do Grande Meyer teve uma ocupação provavelmente tamoia em suas terras agrestes. Com a atividade expansionista da Companhia de Jesus logo no século XVI, vieram os cultivos de milho, arroz, café, mandioca e hortaliças, além das benfeitorias que deveriam produzir quase tudo em seus engenhos, dado o isolamento, através do trabalho escravizado. Aos poucos foi se formando nas terras marginais das encostas da atual Camarista Méier, uma roça que abrigava aqueles que se insurgiam contra a opressão da escravização. As primeiras construções se concentravam entre Pilares e Inhaúma, aproveitando o caminho para São Paulo que depois se tornou a Estrada Real de Santa Cruz (atual Av. D. Helder Câmara) e a proximidade com rios que desaguavam na Baía de Guanabara pela Praia Pequena (Benfica) e Ramos.
.🦁.
As extensas terras jesuítas do Engenho Novo ganharam esse nome por terem sido dispostas após as do Engenho Velho, mais antigo, na Grande Tijuca, e que eram bem mais frescas e úmidas que o árido "engenho de dentro". Apesar de terem alcançado um grande desenvolvimento para os padrões, sofreram durante as invasões corsárias francesas de 1710 e 1711, uma vez que os portugueses destruíam as construções ao interior que pudessem ser apossadas pelos franceses. Na década de 1750, prevendo a expulsão pelas mãos do Marquês de Pombal em 1760, os jesuítas começaram a enviar seus materiais e peças artísticas de volta para a Europa, onde se encontram espalhadas em museus diversos e coleções particulares.
.⛪.
1ª foto: mapa das terras jesuítas no século XVIII no Rio de Janeiro
2 e 3ª fotos; vista do início do Engenho Velho (atual Estácio) para o aqueduto da Lapa
4ª foto: áreas aproximadas do Engenho Velho, Engenho Novo e o quilombo da Serra dos Pretos Forros.
CAPÃO DO BISPO
Essa é conhecida! Até hoje é possível ver a casa tombada no alto de um outeiro, entre o Norte Shopping e Nova América, chamada de "Capão do Bispo". Após o confisco da terra dos jesuítas em 1760, a terra foi adquirida pelo bispo José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco em 1761 e a casa foi erguida. Chegou a ser ocupada por famílias desasistidas após seu tombamento em 1947, mas teve um grande projeto de restauração nos anos 70. Apesar de um novo abandono, ainda consegue ser um dos mais antigos edifícios ainda resistentes no subúrbio do Rio.
.
Vizinha ao Capão do Bispo, a Quinta dos Duques (de Dulce Duque Estrada), foi uma das que mais desenvolveu a agricultura da área, que servia de paragem para todo tipo de tropeiro, mascate ou viajante da Estrada Real de Santa Cruz, que depois passou a ligar a Cancela do Palácio da Quinta da Boa Vista à distante Santa Cruz. De posição privilegiada, contribuiu para que fosse criado a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Novo em 1783. E assim esse pedaço de terra quente começa a se diferenciar do resto do entorno...
🦁
Enquanto a porção dos engenhos dos jesuítas se desenvolvia pela agricultura na porção mais ao norte, onde hoje se situa o Cachambi, Pilares, Abolição, Del Castilho e Engenho Novo, no sopé do Morro da Covanca que ligava as freguesias rurais de Jacarepaguá à cidade (fugindo dos brejos e pântanos de Cascadura) foi surgindo a grande Serra dos Pretos Forros ao longo dos séculos XVIII-XIX. Dividida entre alguns quilombos, tinha na "roça dos Pretos Forros" (atual Camarista Méier) a fronteira com as terras doadas a Augusto Duque Estrada Meyer - o início do Méier de fato - por D. Pedro II aproximadamente onde hoje é o Nise da Silveira (Eng. Dentro).
.🦁.
A localização era considerada marginal, e os jesuítas não reivindicaram suas terras no período de crescimento dos quilombos. Hoje, observando pelo Google Maps, vemos que muitos desses caminhos foram aproveitados por trilheiros e ciclistas que ainda poderiam encontrar vestígios de ferramentas, capelas e casas construídas quando no auge do Quilombo. Hoje o acesso não é indicado por ser utilizado como território do tráfico dos morros do 18 e Camarista, embora algumas iniciativas culturais estejam recuperando o espírito da Serra. Mas assim como os engenhos ao norte tiveram um papel para a aglomeração de pessoas nesse quinhão que hoje chamamos de Grande Meyer, é preciso destacar a importância que tiveram as terras da população preta carioca em nossa formação! Só depois que os "aguaceiros" onde hoje passa o trem puderam ser ocupados. E aí poderemos falar de um Méier!