O RENASCENÇA CLUBE NASCEU NO MÉIER!
No início da última década do Rio de Janeiro como DF, muita coisa acontecia na urbanização crescente da metrópole, e no Grande Méier! Nos ecos do grito do progresso, ecoava a segregação racial presente também nas classes médias operárias e comerciais do subúrbio. A igualdade prometida pela constituição, quando reivindicada por pessoas pretas nos espaços da branquitude, era descaradamente violada. Cidadãos com seus direitos ao lazer bloqueados nas portas de clubes sociais fortaleceram suas identidades em seu próprio clube: o Renascença, formado na Rua Pedro de Carvalho, 89, em 17/02/1951. 29 sócios, negros e negras, sendo elas a maioria. Na diretoria, porém, eram 4 homens para 2 delas (foto 1).
O Renascença nasce para o convívio familiar, com objetivos de integração da comunidade na vida social da cidade. Dado o contexto, alguns comportamentos populares eram rechaçados (como o samba) em meio aos códigos de etiqueta, refinamento e erudição que o clube defendia, lado a lado na luta contra o racismo. A inspiração internacional no Harlem Renaissance dos afro-americanos se refletia na diplomacia que seu presidente Oscar de Paula Assis representava (fotos 2 e 3, com o embaixador do recém-independente Senegal). A casa de quintal arborizado do Méier ficou pequena para o sucesso do clube, e em 1958 começaram as obras no Andaraí, onde está até hoje (foto 4). Mas a influência do Méier não acabou aí.
A dona de um salão de beleza no bairro, Dinah Duarte, foi grande incentivadora de que as vencedoras dos concursos de beleza do clube competissem nos concursos gerais. A hipersexualização da mulher negra, cultivada no imaginário coletivo em torno da "mulata", recaía sobre as misses Renascença, e o clube fomentava a imagem familiar e intelectual de suas integrantes, signos do que era considerado "bom comportamento". No concurso de Miss Guanabara de 1960, Dirce Machado foi a 4ª colocada e arrancou aplausos (foto 6), tendo um grande papel na autoestima de mulheres negras em toda a cidade! Aizita Nascimengo (foto 8) na venceu em 63, mas foi a que mais cresceu. No ano seguinte já se lançava como cantora e atriz tendo trabalhos no cinema, teatro e televisão. No concurso de 1963, as 25 mil pessoas no Maracanãzinho (foto 7) gritaram "queremos a mulata!" quando anunciaram a vencedora oficial. Aizita declarou após que não gostou, pois tinha nome! Depois de grava-lo na cultura nacional, voltou a exercer a enfermagem de formação nos anos 1980, saindo dos holofotes. Hoje tem 82 anos.
Mas foi em 1964 que o clube atingiu o auge! Vera Lúcia Couto foi Miss Guanabara pelo Renascença, sendo a primeira negra a vencer um concurso de beleza no país. No nacional, foi vice-Miss Brasil (foto 8) e pode participar do 3° concurso de beleza mais importante do mundo, representando o Brasil em Long Beach (EUA). Ficou em 3° lugar e seu troféu abriu portas para muitas outras candidatas posteriormente.
O Clube nos anos 1970 manteve sua identidade negra e internacional com as noites do "Shaft", mas também abriu as portas para outros grupos sociais, inclusive do samba. Moacyr Luz funda lá o "Samba do Trabalhador", referência e resistência do samba carioca que até hoje nos dá a graça das segundas na Zona Norte! A história do Renascença Clube é também a história afro-carioca, em todas suas complexas questões, e seu marco zero no Méier pode ser explicado por muitas características geográficas da nossa formação coletiva, sobretudo quando afroreferenciadas. Vida longa ao Rena!!!