LIGA DE "PROTECÇÃO" AOS CEGOS DO BRASIL - ATUAL SUPERMERCADO ASSAÍ MÉIER
Um supermercado pode significar muito para o movimento de alguns bairros. Há notícias de alguns que tem até obras embargadas pela justiça por conta dos impactos sobre a circulação local. Se destacam na paisagem!
O Assaí Atacadista da rua Dias da Cruz dá nome atual a quem já foi Extra e Sendas no passado, com seu movimento incessante de caminhões entrando e saindo pela rua Carolina Santos todos os dias. Eu sempre quis saber mais sobre esse grande terreno no passado, e uma senhora que mora no Méier há 80 anos foi quem me disse, ano passado, que comprava vassouras de uma "lojinha dos cegos" no local lá pelos anos 50. Foi o ponto de partida!
Em 1920 nascia uma instituição que viria a se tornar a maior "ONG" do Brasil em benefício às pessoas cegas: a Liga de Proteção aos Cegos do Brasil, primeiro na rua Heráclito Graça, 93 (fotos 1 e 2). Em 1926, recebeu a visita do prefeito Alaor Prata. Além das apresentações musicais (foto 3), era uma oportunidade de dar visibilidade ao projeto liderado por Pedro Marques Nunes, e receber apoio público e privado para o futuro.
Com o crescimento de beneficiados em idade ativa, a Liga tornou o imóvel da Heráclito um asilo aos mais velhos. Na rua Dias da Cruz (então 417), criou um "Departamento Profissional" em 1931 (fotos 4, e 5/6), onde tinham pequenas manufaturas que produziam itens domésticos, como vassouras e cadeiras, que financiaram a instituição e seus moradores/trabalhadores por 3 décadas. Também recebeu a visita dos interventores do DF, Adolfo Bergamini e Pedro Ernesto, sendo a principal instituição do tipo no país (foto 7).
Apesar do relativo sucesso, havia desavenças internas sobre, principalmente, pequenos pagamentos e baixa influência das pessoas cegas em relação às lideranças, majoritariamente formada por membros da burguesia carioca, que colhiam os louros da visibilidade social da Liga. A primeira dissidência formou a Associação Aliança dos Cegos em 1930, até hoje existente na rua 24 de Maio, 47.
Nas exposições cariocas, os produtos (com a marca do Trevo de 4 folhas) da Liga movimentavam o estande (foto da capa). Nos anos 60, ela foi passada dos responsáveis privados ao poder público, que a abandonou (enquanto ainda residiam 80 cegos!). A situação de calamidade das pessoas não comoveu a Fundação Nacional do Bem-Estar Social e encerrou as atividades na em 1966. Seu terrenão tinha uma casa frontal e 8 outros edifícios onde funcionava a pequena indústria da Liga. Foi leiloado em julho de 1972, onde recebeu o Supermercado Sendas Méier, fazendo concorrência às Casas da Banha, já existente onde é o atual Prezunic.