N. S. DA CONCEIÇÃO DO ENGENHO NOVO e do Trabalhador
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Era criança e qualquer que fosse o retorno de programa de fim de semana ou viagem, eu sabia que estava chegando quando via, geralmente sonolento pela janela, a imagem de Nossa Senhora da Conceição no alto de seus 65m. Seria rapidinho dali em diante. E quantos mais olhares pendulares, de trabalhadores nos trens ou nas ruas, essa imagem recebeu como referência espacial que é?
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O Engenho Novo dos jesuítas, do início dos anos 1700, tem registro da construção de uma capela dedicada a São Miguel e N. S. da Conceição em 1720. Foi reedificada quando ocorreu a expulsão dos jesuítas, e assistiu a transformação da grande fazenda canavieira em lotes com chácaras e sítios. Em 1858 os trilhos da estrada de ferro passavam - e paravam naquela que foi uma das primeiras estações - ao lado da igreja, que foi reconstruída em 1869. Vemos a sua forma antiga nas fotos 4, 5 e 6 (1923). Já contamos a história do Buraco do Padre (o verdadeiro! Não a passagem de carros) em outro post, e ela mostra como havia movimento para a igreja nos anos 20.
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Chegaram os anos do gov. JK, onde o progresso esteve diretamente associado às acinzentadas linhas retas da fluidez dos fluxos. Mas enquanto o bloco capitalista exigia pistas e pontes sobre as cidades e pessoas, as influências do trabalhismo de Vargas ainda ecoavam entre as massas. O Padre Alexandre, em 1959, conseguiu fundos para iniciar as obras da nova igreja, inaugurada pelo Vice-Presidente da República, João Goulart, em 1961, junto da imagem do Lar do Cristo Trabalhador. Eram tempos de lembrar de Jesus carpinteiro, obediente funcionário de seu pai. E eram tempos de grandiosidade! A nova Paróquia foi descrita como "recolhida, moderna, simples, funcional e grande". Os traçados projetados por João Szilard foram elogiados como marcos da arquitetura moderna, assim como os edifícios da nova capital, Brasília.
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E justamente na construção do novo, encontraram o passado inevitável. As obras dos anos 60 escavaram vestígios de ossadas, que reforçam as tradições de sepultamento nos terrenos das igrejas no passado, e são parte da riqueza arqueológica suburbana por enquanto desvendada.