A DOÇURA ANÁRQUICA DAS LETRAS DO DR. FABIO LUZ
Sim, sabemos que a rua é mais conhecida como Fábio DA Luz (ex-rua de São Paulo), mas a homenagem se refere ao médico, escritor, crítico literário e inspetor escolar baiano Fábio Lopes dos Santos Luz. Nascido em 1864 em Valença, BA, chegou ao Rio em 1888 e estabeleceu residência e clínica no nascente Meyer, nas ruas Adelaide (atual Pedro de Carvalho), Dias da Cruz e Ana Barbosa. Curiosamente os 3 endereços no número 16 das ruas. Assim como os já aqui citados Archias Cordeiro e Aristides Caire, o dr. Fabio Luz também atendia a todos que lhe demandavam cuidados nas redondezas, e amenizava as necessidades tanto quanto podia com dinheiro, comida ou medicamentos. Os dois primeiros faziam por um generoso espírito de caridade, mas Fábio Luz o fazia por ideal!
Antes da publicação de alguns de suas obras mais conhecidas, como "O Ideólogo" de 1903, o Dr. Fabio Luz foi admitido como Inspetor Escolar do DF (1893), cargo de prestígio e de alta influência sobre os rumos do ensino da época, ainda muito socialmente excludente. E foi por essa profissão que se aposentou já nos anos 20. A foto 2 (Fon-Fon, 1912) o mostra organizando uma formatura de 2.000 alunos durante uma "Festa da Primavera" enquanto cantavam:
- "Flora, ditosa, nos gera
Na festa da Primavera
Que o Fábio Luz nos prepara
De sedução a mais rara
Será a nossa primazia
Pois as crianças são rosas
Rosas de viva alegria
Frescas, gentis e mimosas"
Na foto 3, a versão da época da "comissão julgadora de professores" de feiras culturais e artísticas escolares! Tendo o Inspetor Fábio sentado à frente e os quadros dos alunos expostos ao fundo (Fon-Fon, 1915).
Gozou de grande apreço público, como era noticiado pelas "notas sociaes" da revista O Malho, foi membro da Academia Carioca de Letras, mas faleceu empobrecido e realizado em 9/5/1938.
Porque Fábio Luz foi realmente uma figura da qual uma Embaixada do Meyer deveria fazer uma estátua. No início do século XX, é um habitué da famosa Livraria Garnier da rua do Ouvidor (foto 7), dividindo prateleiras com um Machado ou um Bilac vez ou outra. Como bom meyerense, Fábio também formou seu "bonde" (foto 8 - trecho de seu "testamento libertário") com amigos que o ajudaram a fundar, em 1904 (plena época de Revolta da Vacina), a Universidade Popular de Ensino Livre, iniciativa que visava possibilitar a escolarização da classe trabalhadora. Seu funcionamento curto e nômade entre salões da Praça da República e rua São José esbarrou em desavenças com Elysio de Carvalho, que foi o primeiro responsável administrativo da Universidade, mas não guardou a ela a devida atenção. Entrou para a polícia depois, indo contra um dos ideais compartilhados pelo grupo, e do qual Fábio Luz foi defensor romântico: o anarquismo!
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A literatura de Fábio Luz do começo do século XX exprimia as visões do autor sobre as opressões às quais estavam presas as pessoas e instituições, mesmo quando publicou literatura infantil e didática. Sua intensa atividade escolar, médica, cultural, jornalística e literária tornavam famosas suas características de doçura, humildade e grandeza nas ações libertárias (foto 11 com Oiticica e Mª Lacerda). Foi professor do Colégio Pedro II, introduziu o cinema como método educativo com Venerando da Graça, escreveu sobre a opressão matrimonial que igualmente atinge a diferentes mulheres "de sociedade, funcionárias ou operárias". Mas não compactuava com o centralismo soviético do comunismo irradiado pelo recente PCB nos anos 20, com que teve rusgas públicas. Isso não impediu que fosse preso em na mesma década pelo seu envolvimento no jornal "Voz do Povo". A última foto foi retirada de sua coluna da Revista Brazil Moderno em 1906.
Grato ao @leaoetiopedomeier por essa boa lembrança!