O REFÚGIO NOS SUBÚRBIOS
O início dessa página escolheu a proteção natural que a Serra dos Pretos Forros fornecia a seus quilombos como ponto de partida. Já nas partes baixas do atual Grande Méier, no século XVIII, o Engenho Novo dos Jesuítas se desenvolvia rapidamente (foto 1, aspecto de Engenho da época)
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No mês de outubro de 1711, o Rio de Janeiro estava ocupado pelos corsários franceses chefiados por Duguay-Trouin. Em setembro se deu a poderosa invasão (foto 2) pela Baía da Guanabara. Sem saída, o governo se refugiou, em meio à chuva e lama, na Fazenda do Engenho Novo, ao lado de 400 cariocas. Os morros que a destacavam da cidade litorânea (panorama da foto 7) dariam maior segurança. Franceses enviavam seus negociantes ao Engenho Novo para cobrança de suas pilhagens, ou seria a terra arrasada. Deixaram a cidade, desmoralizada e falida pós-resgate, em novembro.
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182 anos depois dessa experiência de refúgio, a maior parte das estações suburbanas já existia, e explodiu a Revolta da Armada contra Floriano Peixoto ameaçando com canhões de encouraçados, como o poderoso Aquidaban, os cariocas que mais buscavam a vista do mar. Coelho Netto narra em "O Morto - memórias de um fuzilado" o desespero da fuga de todo tipo de gente, se acotovelando em bondes e trens para bater de porta em porta na busca de abrigo em casas de famílias simples ou abastadas, colocando muitos cariocas pela primeira vez em contato real com o "subúrbio dos jornais", violento e carente no imaginário das elites. Porém, a Revolta durou meses, e os cariocas logo voltaram à rotina, rindo do desespero inicial, enquanto algumas balas de canhões perdidas ainda zuniam no horizonte do Rio.
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O encouraçado Aquidaban sofreu avarias na Revolta (buraco na foto 11), mas se manteve ativo até 1906, qnd uma parte explodiu na Baía de Ilha Grande. Francisco Calheiros da Graça, almirante de impecável carreira militar comandando o navio, salvou os tripulantes que pode, até se deixar afundar com 111 outros colegas. Após o desastre, a Rua Casimiro vira Aquidabã, e rua das Dores ganha o nome do Almirante Calheiros da Graça (foto 14). Mais 2 referências espaciais do nosso cotidiano!