A PRISÃO DE PRESTES E OLGA NO CACHAMBI
O Rio foi um dos palcos da Intentona Comunista de nov/1935, que fora rapidamente sufocada. Seus comandantes e combatentes haviam sido presos, e os demais eram caçados pelo Rio de Janeiro. O principal de todos, líder da Aliança Nacional Libertadora, Luiz Carlos Prestes, estava foragido. As investigações encontraram endereços na Zona Sul, mas as batidas tardias só viam poucas pistas em papel. Uma exceção: o cachorro "Príncipe", que só no dia da prisão se confirmou que reconhecia Prestes como tutor, denunciando com latidos a presença do melhor amigo dentro da casa suspeita.
Denúncias apontavam para o Meyer como local de esconderijo. Prestes já morara na região e diziam tê-lo visto no Jardim do Meyer. Dia 29/jan/36: começaram a vasculhar rua por rua, casa por casa, no povoado bairro. No fim de fevereiro, após o Carnaval, uma última pista! Victor Baron, aliado sob tortura, balbuciou algo que terminava em "...ório, Cachamby". E assim as buscas se restringiram à longa rua Honório, ainda sem a pavimentação de 1940. Baron, americano, "se suicidou" (a mãe contestou) depois da delação. Chovia muito no dia 5 de março, e às 4 da manhã começaram a entrar nas casas do perímetro correto (foto 3). As revoltas das famílias eram caladas pela presença dos mais de 60 agentes de polícia na operação, enlameados porque o carro não subia a rua. Em uma casa, o latido do cão Príncipe. O cerco vê um homem tentar sair pelos fundos enquanto uma mulher enrola a polícia na porta principal. "É PRESTES! RENDAM-NO AGORA".
Assim, a Honório 279 (hoje 1093) assistiu a essa passagem histórica, mas ainda inicial. Foram levados da casa também D. Julia ("dona" da casa) e Olga "Meirelles", esposa de Prestes e assumidamente portuguesa. Na prisão, descobre-se que seu nome real era Olga Benario, judia, alemã e comunista, enviada ao Brasil para a segurança pessoal de Prestes, mas envolvida pelo inesperado amor. Do esconderijo de meses, foi concebida Anita Leocadia. Assim, Olga estava grávida de uma brasileira, mas que não impediu que fosse expulsa do país pelo governo de Getúlio Vargas e pela Justiça Brasileira, condenando sua filha a nascer em uma prisão nazista da Gestapo, na Alemanha. A grande campanha da mãe de Prestes, D. Leocadia, tentou salvar ambas, mas só conseguiu tirar Anita, uma bebê brasileira encarcerada pelos Nazistas por escolha do Brasil. Confiante de que a filha teria uma vida inteira pela frente, mas sem a proteção que a pequena lhe garantia, Olga se manteve sã na prisão, onde se exercitava e estudava dentro das condições possíveis. Isso durou até o seu fim em uma das várias câmaras coletivas de gás num campo de concentração, onde foi morta em 1938...
Luis Carlos Prestes e Anita viveram como pai e filha, juntos e atuantes, por longos anos, até o falecimento do "Cavaleiro da Esperança" em 1990. Anita ainda é uma importante referência acadêmica, principalmente na História Brasileira!
O cão "Príncipe" de Prestes
Filinto Muller, chefe de Polícia, algoz e ex-aliado de Prestes