O VIADUTO DO MÉIER
É possível contar toda a evolução urbana da cidade do Rio, incluindo suas contradições e segregações, refazendo todas as suas "soluções" viárias tiradas das engenheiras cartolas de quem derrubava morros, removia famílias, dava sinal verde pro automóvel particular atropelar a coletividade. Na década de 1960, o Rio de Janeiro era a cidade-estado da Guanabara, e seu governador Carlos Lacerda teve uma expressiva votação no Méier para vencer o pleito.
Entre 1957 e 64, o número de carros particulares havia dobrado na cidade, chegando a 140 mil. Os trilhos de bondes já não cabiam nas disputadas ruas com os ônibus e as lotações, e o asfaltamento pavimentava o "futuro da mobilidade desenvolvida". O subcentro do Méier recebeu, portanto, atenção especial do gigantesco plano viário implantado pelo governo de Lacerda. Túneis, aterros e viadutos seriam partes fundamentais da fluidez econômica da Guanabara. E com esse argumento, fatiaram bairros inteiros com a pressa que a inserção capitalista aparentava demandar.
O viaduto de Todos os Santos e o Buraco do Padre não atendiam ao movimento, e a rua 24 de Maio, em mao dupla, congestionava a cada movimento pendular. A chamada Avenida Central do Brasil, depois Mal. Rondon, veio para conectar a Radial Oeste ao Méier, tornando a Hermengarda parte dessa via expressa. Ela foi rebaixada, e a Joaquim Méier ganhou um viaduto para seguir seu fluxo. Isso fez crescer ainda mais o movimento entre essa rua, a Dias da Cruz e Ana Barbosa.
Para ligar o movimento da 24 de Maio ao Jardim do Méier, nascia em 1968 o Viaduto Castro Alves, mas não sem polêmicas! Seus 273 metros foram tidos como muito inclinados e pouco seguros aos ônibus. A saída dos bombeiros também era prejudicada pelo congestionamento. Isso sem falar na rua Aristides Caire e sua calçada do Jardim (foto 1), apagadas pelo fundo do viaduto que ninguém queria passar. O desprezo foi tanto que seus primeiros dias observaram mais pedestres que carros trafegando pelo asfalto novinho em piche. Com o tempo fomos utilizando e engarrafando no viaduto, tanto quanto nos outros da cidade.