LEÃO ETÍOPE DO MÉIER
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No dia 13 de maio, o bairro do Méier celebrou seus 134 anos de existência, contados a partir da inauguração de sua estação em 1889. Nessa data especial, um símbolo marcante foi adicionado ao cruzamento das ruas Dias da Cruz e Hermengarda, um marco que imediatamente identifica o local como parte do Méier.
Esse símbolo é tema de um dos capítulos do livro "Um Grande Méier de histórias", lançado pelo coletivo Engenhos de Histórias e disponível na Livraria Belle Époque e na Folha Seca. O capítulo foi escrito pelo escultor Nivaldo Rodrigues, o próprio responsável por essa obra, e revela os bastidores que acalmaram minha curiosidade infantil ao explicar que a presença visível dos testículos sempre chamou a atenção dos transeuntes. Afinal, em Nova Iorque, as pessoas formam fila para tirar fotos com as mãos nos testículos do famoso touro.
O leão da Veterinária Fliper do Engenho de Dentro, também criado pelo mesmo artista, foi através dele que o sócio do Lions Club do Méier entrou em contato com Nivaldo para encomendar a estátua. Era um presente comemorativo pelos 50 anos do clube e pelos 100 anos do Méier. Por esse motivo, a grande letra "L" em ferro pintada de amarelo serve como base para o felino. Embora haja uma placa indicativa, nem todos associam a letra ao clube, preferindo identificá-la com o próprio animal!
No entanto, a estátua adquiriu uma nova identidade, tornando-se "O Leão Etíope do Méier", ressignificando seu simbolismo para o bairro. Essa transformação ocorreu através da fundação da facção cultural "O Leão Etíope do Méier", que está ativa há 9 anos nas ruas e nas redes sociais, africanizando os sentidos e percepções de todas as formas de arte apresentadas em seus eventos. O Leão de Judá, um símbolo icônico da Etiópia desde o início da dinastia salomônica, é usado para representar a atual Etiópia, alegadamente descendente do Rei Salomão e da Rainha de Sabá, datando de cerca de mil anos a.C.
A Etiópia é também um símbolo de resistência. Quando a estação do Méier foi inaugurada em 1889, Sahle Mariam foi coroado como Imperador Menelik II. Sua esposa, Taitu Bitul, era uma Imperatriz de grande poder e influência política e militar, que se opôs firmemente às estratégias imperialistas italianas. Em 1895, a invasão italiana foi derrotada pela independência etíope após a grande Batalha de Adwa, onde a Etiópia emergiu vitoriosa contra os europeus. Taitu, a fundadora da atual capital Adis Abeba, governou o país diretamente durante a doença de Menelik II.